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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Greve de 1911

Enquadra-se nestas circunstâncias a paralisação dos moços e das operárias conserveiras em Fevereiro e Março de 1911, que suscitou a solidariedade dos sapateiros, pedreiros, corticeiros e carregadores, nomeadamente de outras localidades da Margem Sul e de Lisboa, e que seria uma das mais emblemáticas greves realizadas em Setúbal, ainda que pelos piores motivos, pois o derramamento de sangue a que deu lugar decretou “o divórcio entre o operariado e os republicanos” (Arranja, 2009:9).

A designada “greve de Setúbal”, iniciada no final de Fevereiro pelas mulheres empregadas nas fábricas de conservas, que ganhavam 40 réis por hora durante o dia e 50 por hora durante a noite e pretendiam passar a auferir 50 réis independentemente de se tratar de trabalho diurno ou nocturno, estendeu-se até 13 de Março, envolta em polémica e tendo um desfecho trágico.

Logo nos primeiros dias da paralisação, um incidente ficaria registado: o poeta e republicano Paulino de Oliveira – figura ilustre da cidade que, à semelhança da mulher, a escritora e activista feminista Ana de Castro Osório, publicamente se expressava a favor das classes operárias e da igualdade do género – tentou minorar o impacto da greve que afectava a conserveira propriedade da sua irmã, dirigindo-se à fábrica para tomar o lugar das funcionárias. Estas vaiaram-no e terão, alegadamente, procurado agredir as mulheres que o acompanhavam, ao que Paulino de Oliveira ripostou com chicotadas sobre as grevistas. A contradição entre o pensamento e os actos do poeta foi justificada pelo próprio e pela sua esposa como “uma agressão a mulheres em defesa de outras mulheres”, mas terá lesado a imagem pública do casal.

Mas um episódio bem mais grave estava a dias de ocorrer. A 13 de Março, e uma vez mais pretendendo os industriais de duas conserveiras contornar os efeitos da paralisação, verificaram-se confrontos entre as largas centenas de grevistas que se aglomeravam na Avenida Luísa Todi e agentes da Guarda Republicana que escoltavam os patrões (Arranja, 2011), daí resultando a morte dos operários conserveiros Maria Torres e António Mendes. Tingia-se assim de vermelho a aurora da República, implantada havia apenas cinco meses.

in FREITAS, Helena de Sousa, A expressão anarquista nas paredes de Setúbal: o cavalo de batalha de Tróia, Disponível em: http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/CIES-WP120_Freitas_001.pdf [consultado em: 26 de Novembro de 2013]

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