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terça-feira, 4 de março de 2014

Casa Tumular e Sepulturas do Convento de Jesus

Por detrás do altar-mor da Igreja do Convento de Jesus está no pavimento uma pedra quadrada de 55 centímetros de diâmetro. Levantada ela aparece uma estreita escada de sete degraus de alvenaria, por onde apenas cabe uma pessoa. Ao fundo quase da escada está uma pequena porta, de um metro de altura e 50 cent. de largura, deitando para uma casa ou cripta que fica entre a parede junta aos degraus e a outra parede do fundo da igreja, ficando por conseguinte esta casa colocada sob a última parte e fundo da capela-mor, que não ficou acabada segundo o primitivo risco, servindo-lhe de fundo uma tribuna de madeira de talha dourada, que fica sobre o altar-mor. 

A casa tumular tem apenas uma pequena fresta ou lumieira com grade de ferro, virada para o sul, mas está na sua maior parte tapada de pedra e cal, a fim de se evitar que para dentro dela se lancem pedras, lixo, etc. Tem esta casa uns dois metros de altura, e 6 metros e 50 cent. de comprimento de norte a sul, e 3 metros e 90 cent. de largura de nascente a poente. A casa é abóbada, e as faces interiores das suas paredes e da mesma abóbada eram revestidas de azulejos de cor branca e parda. Hoje, porém, apenas se encontram ali alguns fragmentos desses azulejos, mas muito danificados. Na altura de um metro em volta das paredes ainda se vêem algumas palavras em letra gótica, e escritas em latim dos mesmos azulejos e com cor amarela, como por exemplo – Memoria tua Domino nostro, mas não se pode ligar uma oração completa, e menos se encontra um nome próprio por todo esse escaliçado, letras isoladas e mais ou menos apagadas. 

Em frente da porta de entrada, e parede do lado do nascente está um pequeno altar de alvenaria, guarnecido de iguais azulejos já muito deteriorados, e sobre o altar vê-se um largo nicho cavado na mesma parede, guarnecido também dos ditos azulejos. O nicho está guarnecido dos lados, e em cima tem enfeites de pedraria da Arrábida, e de fábrica semelhante à da igreja e pórtico principal. Não contém porém imagem alguma. 

Ao lado direito deste altar (para a parte do norte) está junto à parede um túmulo de pedra da Arrábida, de fábrica lisa, tendo de altura 1 metro e 10 cent., de comprimento 1 metro e 50 cent. e de largura 60 cent. 
Na parede do lado norte, em frente à outra do sul, em que está a fresta ou lumieira, assenta junto a ela um outro túmulo maior, mas da mesma pedra e de igual fábrica, tendo 1 metro e 50cent., de comprimento 2 metros e 50 cent., e de largura 1 metro. Sobre este túmulo vimos uma caveira humana, que parece ter sido ali posta não haverá muito tempo.

Nestes três túmulos não há inscrição alguma.

Ao meio do pavimento da casa está uma campa sepulcral de mármore branco, que mede 2 metros e 60 cent. de comprimento e 1 metro e 3 centímetros de largura. O comprimento corre de norte para sul, para onde estão viradas as seguintes armas:



São as armas do bispo de Ceuta e da Guarda D. Fr. João Manuel, que eram as armas dos Manuéis de Castela e foram concedidas aos descendentes do bispo e de D. Justa Rodrigues Pereira; hoje usam-nas os senhores da Casa de Atalaia.

Abaixo das armas a seguinte inscrição:

AQVI IAZ DOM AM
TONIO MANOEL NE
TO DA FVNDODOR
DESTE MVSTEIRO

(As cifras dos Manuéis, e de Vilhenas, como descendentes do infante D. Manuel, filho de el-rei D. Fernando, o Santo, de Castela, trazem as armas, que o mesmo infante tomou, que foram um escudo quarteado, numa parte um leão, que significa o brazão dos reis de Leão, e noutra um braço com uma asa, e na mão uma espada, que vem a ser a mão de um anjo, aludindo a sua mãe que era descendente de Isacio Ângelo, Imperador de Constantinopla. Notícias de Portugal. T. 1º, p. 224. Manuel Severim de Faria)
Diz Brito Rebelo que por detrás do altar-mor estão dois jazigos singelos, num dos quais descansam os retos da fundadora com os de sua mãe, e em outro os de seu neto D. António Manuel e que estas sepulturas foram profanadas para naturalmente se procurar nelas algum objecto de valor. («Ocidente». Vol. 4.º N.º 104. P 252)

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SEPULTURAS

Os ossos da mãe de Justa Rodrigues Pereira, na clausura Justa de Jesus que fora fundadora e prioresa do Convento da Ordem Dominicana em Abrantes, foram trasladados daquele convento, a pedido de sua filha, para o de Jesus em Setúbal onde ficaram depositados em sepultura rasa na casa do Capítulo.
Na mesma casa do Capítulo, e juntos àqueles, jazem os restos mortais de Justa Rodrigues Pereira, tendo unicamente sobre a campa humilde e rasa a seguinte inscrição:

AQUI JAZ A FUNDADORA DESTA CASA.

Por fins do século XVIII viera para Setúbal um bispo do Maranhão, que havia sido frade da Província da Arrábida. Em Setúbal fez construir uma casa muito modesta, junto à dos padres confessor e capelão do Convento de Jesus, estando ainda hoje todas essas casas unidas ao pátio da portaria do mesmo convento, do lado poente, e com frente para o sul e Largo de Jesus. O bispo faleceu naquela mesma casa, e foi sepultado na igreja do convento, dentro da teia do cruzeiro, e junto a uma das capelas, a do lado norte.

O chapéu do falecido este por muito tempo pendurado na parede da igreja e sobre a sepultura rasa. Ultimamente lançaram o chapéu para trás do altar-mor, onde ainda o vimos escondido, velho e deteriorado.

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Diogo de Lucena, filho do Doutor João Rodrigues de Lucena, morador em Setúbal, e de Margarida Inês, viúvo de Catarina Serrão, sem herdeiros forçados, por seus filhos já haverem falecido, como se depreende dos sufrágios que manda se façam por suas almas, dispôs em seu testamento de 15 de Julho de 1609, entre outras coisas, que quando falecesse lhe vestissem o seu hábito branco sobre o de S. Francisco, e lhe calçassem nos pés uma servilhas vermelhas novas com esporas, e lhe cingissem uma espada, pondo-lhe na cabeça um barrete vermelho à lei de cavaleiro, porque era professo no hábito de Sant’Iago, e que se pagasse logo 1$000 réis à fábrica do convento, a que era obrigado pela cama em que morria segundo a regra, para lhe não fazerem custas. Dispôs mais que queria ser enterrado na Igreja do Convento de Jesus de Setúbal, e na mesma cova em que o havia sido seu pai (Arch. Misericórdia de Setúbal. Liv. N.º 17. Testamentos, p. 70)

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Por todo o pavimento da igreja havia sepulturas rasas. Mas de princípios do século XVIII, em consequência de medidas higiénicas que se tornaram necessárias, por ordem do ordinário, em vista da representação das freiras, a ninguém se permitia ser ali enterrado, salvo o que tivesse sepultura ou carneiro seu. Consta, porém, que apenas houve duas excepções, por tolerância de um capelão. (Brito Rebelo «O Ocidente». Vol. 4 Nº 104, p. 232)

in CARVALHO, Almeida, Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense. Vol. III - Convento de Jesus. Setúbal, Junta Distrital, 1969

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