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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Setúbal na História


Título: Setúbal na História
Autor: Vários
Edição: LASA
Ano: 1990



Pedem-me para escrever algumas palavras, naturalmente breves, a abrir o volume do ciclo de conferências «Setúbal na História», realizadas em 84/87, por iniciativa da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão.

«Promover a realização de conferências» que, na sua expressão cultural, suscitem o gosto e o interesse pelas coisas e aspectos da região», no dizer do próprio Estatuto da Liga, é um dos meios de que ela se serve para tornar possível uma permanente valorização cultural da região.

Julgo que a realização de mais de uma dezena de Conferências sobre os mais variados temas e o brilhantismo alcançado, não só pelo interesse dos mesmos como pelo alto nível que as várias personalidades lhes imprimiram, seriam razão suficiente para poder afirmar que o fim estatutário referido foi alcançado e que todos os Conferentes e Direcção da Liga são merecedores no nosso Bem Hajam

Mas também deve ser dito que esse êxito traz consigo novas obrigações. É sempre assim. Neste caso, e porque julgo que a cultura é uma certa e pessoal visão das coisas, as várias abordagens feitas e a sua variedade vêm alicerçar curiosidades, chamar a atenção para aspectos em que não tínhamos reparado, provocar na sua inquietação criadora o desejo de ir sempre mais além. Daí, serem cada vez maiores as responsabilidades da Liga.

Vivemos uma época em que nunca se soube tanto e nunca houve tanta incerteza.

E é precisamente na consciência dessa incerteza que reside o mais alto sentido da cultura. Esta, nesse seu ir sempre mais além, faz com que a vida deva ser uma descoberta constante. É a cultura, no seu permanente procurar, que obriga a que o verdadeiro prazer esteja em ter o prazer de progressiva e implícita espera. Não espera passiva; antes relação dialéctica no ir activamente do que nos é oferecido até ao que oferecemos. Isso implica continuidade. Só há efectiva actividade no acto de cultura, quando essa continuidade essencial, que é mobilizadora, apaga a descontinuidade acidental, que é imobilizadora. A criação é, afinal, partir da experiência de ontem para a esperança de amanhã. Dizia Kierkegaard, na sua leitura existencial, que «a vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas tem de ser vivida olhando para a frente.»

Por tudo isto, o Ciclo de Conferências, na sua multiplicidade temática e de tratamento, contribuiu fortemente para uma melhor compreensão de Setúbal na História.

É particularmente de sublinhar que à multiplicidade temática correspondeu, naturalmente, uma diversidade posicional perante o mundo e a vida. Não obstante, uma noção comum este sempre presente: a de que a contínua transformação do mundo e da vida impõe um constante redimensionar problemático. E, se sempre assim tem sido, o dinamismo intelectual do século XX é cada vez mais acelerado. Efectivamente, o comodismo positivista novecentista rompe-se. Assim, na própria Ciência, a crise do determinismo, o princípio da indeterminação de Heisenber, um dos fundadores da moderna Física Quântica, a própria noção de valor tendencial da lei, vieram criar menos certezas e novas inquietações, primeiro, mais cuidadas reflexões e perspectivas, depois. Começa o enfraquecimento de certezas até então indiscutíveis no mundo da ciência e, obviamente, fora dela.

Estevão Ferreira Moreira
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Através da História do Homem, tem sido quase uma constante as gerações julgarem-se situadas na esquina da Civilização. Isso tem conduzido muita vez a uma suficiência e convencimento de que, à maneira de Ega, nada vale a pena mudar ou, como ele próprio diz, «não vale a pena viver». E o homem paraliticamente «burguês» mostra, declara ou insinua, pelas mais variadas formas, que a sociedade atingiu com a sua expressão de época o último grau do seu desenvolvimento. Daí, o espírito «blasé» que leva a rir do mundo por não se ser capaz de o modificar.

Tal não aconteceu neste Ciclo de Conferências. Por um lado, porque foi múltiplo na sua temática e nas suas perspectivas ideológicas; por outro lado, porque não houve posições estáticas e imobilizadoras, porque – e isto é essencial que fique presente – nada foi considerado como definitivo. O procurar crítico pesou mais que o encontrar dogmático.

E, até, depois de ouvidas estas conferências, ficamos mais seguros de que, por muito que se encha a cabeça, deve haver sempre espaço para a dúvida e para o sonho. O tipo de tratamento dos vários temas foi diversificado? Óptimo, porque é horrível divinizar a uniformidade.
Naturalmente, novo Ciclo se seguirá. Novos temas, novos conceitos, novas perspectivas e inquietações. Espero que assim acontecerá. É indispensável que todos os dias sejam diferentes e que a vida seja sempre uma descoberta constante.

Por isso, tudo o que foi dito durante quatro anos no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, na presença tão rica e acolhedora do «Tríptico dos Notáveis» da Cidade, traz obrigação de continuidade, continuidade que é Honra e Penhor do Homem de Hoje, do Homem de Amanhã.

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Conferências

27 de Novembro de 1984
A História de Setúbal
José Hermano Saraiva

23 de Março de 1985
Setúbal na História Religiosa: A Diocese de Setúbal
D. Manuel da Silva Martins

19 de Abril de 1985
História Urbana de Setúbal: Olhar o Passado – Perspectivar o Futuro
Carlos Viera de Faria

14 de Setembro de 1985
Setúbal, Minha Amada Sem Tempo
Luís Cabral Adão

23 de Novembro de 1985
Arqueologia de Setúbal: Para o Conhecimento das Origens da Cidade
Carlos Tavares da Silva

3 de Dezembro de 1985
Sobre o Manuelino de Setúbal
Fernando António Baptista Pereira

1 de Março de 1986
Setúbal na História da Poesia
António Osório de Castro

19 de Abril de 1986
Setúbal na História Social Portuguesa
Jorge Borges de Macedo

25 de Maio de 1986
Setúbal por um Testemunho Estrangeiro
Luís de Sttau Monteiro

7 de Junho de 1986
Invasão do Duque de Alba em 1580: Importância e resistência de Setúbal
Carlos Santos Bessa

13 de Dezembro de 1986
Setúbal na História da Numismática
José Carvalho Fernandes

6 de Junho de 1987
A Religiosidade Popular Portuguesa na Cultura Brasileira
Fernando Alves Cristóvão

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