.

.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Vilegiatura Marítima em Setúbal




Título: Vilegiatura Marítima em Setúbal
Subtítulo: Do Século XIX ao Início do Século XX
Autor: Inês Gato de Pinho
Edição: LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão
Ano: 2010



A “Vilegiatura Marítima em Setúbal”, de Inês Gato de Pinho, transporta-nos para uma dimensão lúdica da cidade de Setúbal que nem sempre tem sido evidente, ao longo deste último século da sua existência, marcados por fluxos e refluxos de uma economia, ora hesitante, ora pujante, e por idêntica dinâmica cultural. O texto transporta-nos às praias da frente ribeirinha e ao Passeio do Lago, a um tempo em que a Avenida Luísa Todi, entre outras transformações, veio a substituir. Transporta-nos também a um elegante estabelecimento balnear «fin de siècle», traçado pelo grande Ventura Terra, no seu gesto romântico, de influência francesa, muito ao gosto erudito da época, cuja memória se perdeu, deixando, todavia, alguns traços na topologia do lugar, que a autora procura identificar.
Entende-se a cidade como um manufacto arquitectónico humano, constituído por um somatório de acções objectuais e estruturais, que se vão ancorando no território, de modo progressivo, definidor, mas não definitivo. Cada momento temporal deixa nesse mesmo território testemunhos do sistema de modelos culturais que o informam, conformando-o. São modelos activos e interpretativos, à luz de valores dominantes de cada época – o «zeitgeist».
A cidade vai-se desenhando através das “pegadas” que esses valores deixam, como resíduo e por vezes, de modo aforístico, no conceito efémero do seu território. Isto implica entender e reflectir sobre o modo como os seus habitantes se apropriam dele, sobre as expectativas que os seus habitantes têm relativamente àquilo que ele tem para lhes oferecer.
A transformação das cidades pode ser gradual ou convulsiva, e Setúbal tem passado por ambos, ao longo da sua História. Resulta sempre de uma agressão, de um corte com  o que existia. Corte com uma realidade, tendo em vista a imposição de uma outra. Desenhar o território, seja ele geneticamente urbano ou transmutado de rural em urbano, é sempre um acto cirúrgico de grande impacto, estruturalmente discutível, conjunturalmente desejável ou não.
Não existem modelos seguros – definitivos – de cidade, mas existem meios e métodos de leitura dos factos e artefactos urbanos. Estes constituem instrumentos, que permitem uma abordagem esclarecida das condições conducentes a uma eventual intervenção. O seu entendimento e a sua memória são ferramenta fundamental para a construção, no presente, de um futuro imaginado.
É, por ventura, aqui, que reside a importância e a pertinência do presente trabalho de Inês Gato de Pinho. Ao sacudir a poeira dos antigos documentos, vai desvelando memórias passíveis de transmigrarem na genética dos factos urbanos futuros, estabelecendo eleos entre verdades díspares, que apelam aquele inteligente aforismo de Louis Khan: “What was, has always been; what is, has always been; what will be, has always been!”

Luís Conceição
 

0 comentários:

Enviar um comentário